quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A definir...


Sorriu indecifravelmente como quem quer persuadir a alguém que algo há por trás do sorriso sem deixar claro o que seria. Embora sendo uma pessoa conhecidamente curiosa, manti-me disposta a provar que não caía em suas provocações ao mesmo tempo em que tramava para atraí-lo a um jogo de palavras que tão logo revelaria seu grande mistério. Não tardou e ele já se encontrava perdido, sem saber o que dizia enquanto me dizia tudo. Aquela conversa cada vez mais me despertava interesse. Eu pude ver seu desespero em querer tomar o controle da situação e isso me divertia impiedosamente. Então eu o tinha ganho... É bem verdade que relutou a se render aos meus encantos mas justamente foi o que eu havia descoberto; queria-me! Incitei-o até que estivesse completamente paciente à minha vontade. Enxerguei em seus olhos, através de suas pupilas dilatadas, a chama que ardia partindo de seu desejo. Cada vez mais fui me interessando a deixá-lo louco. Tinha-o agora sob meu comando e a sensação de poder fazia-me a senhora da ocasião, o que também enlouquecia a mim. Pois agora éramos dois loucos perdidos na espectativa um do outro; eu a estrada que o conduzia à plenitude; ele a ascensão do meu ego soberbo. Palavras, palavras, palavras... Quando elas finalmente se esvaíram a ponto de doarem suas exclusividades até onde lhe foram convenientes, suspirei em seu ouvido com um som convidativo, indiscutivelmente desnecessário. Diante de mim não mais acreditei estar um homem, mas uma fera indomável, capaz de estraçalhar um coração de diamante – foi o que aconteceu. Não sei por que assim se deu, e a partir daquele instante passei a respirar por ele. Não seria mais capaz de viver se me fosse negada a sua existência igualmente por mim. Era alma, era corpo. Era desejo, consumição. Ardente paixão que por fim se entenderia amor...

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Premiação

Agradeço ao selo (Este Blog Vale a Pena Conferir) que me foi devotado pelo amigo Vicente. Como de praxe, indica-se 5 blogs merecedores da mesma premiação (ainda não premiados). No entanto, como sou nova no parque dos blogueiros, vou ficar devendo as minhas indicações. Indicarei em breve...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Como seria ter uma vida diferente da nossa?

Essa noite eu tive um sonho. Sonhei que era alguém muito rico e poderoso. Tinha tudo aos meus pés, mas não tinha todos. A maioria eu tive que comprar. Meus pais nunca exerceram seus papéis em minha vida. Vivi jogado aos cantos da casa como parte da sujeira que os empregados tinham que limpar todo dia. Eu podia sair pra onde quisesse, com quem quisesse, voltar se quisesse, sem dar satisfações e deixar preocupados no meio do caminho. Meus pais não podiam ir à calçada de casa sem serem perseguidos por flashes. Eu nunca havia sido exposto. Na verdade até penso que o mundo nunca soube da minha existência. Dos parentes que eu deveria ter jamais tive notícia. As únicas coisas que eu tinha certeza era de que um homem e uma mulher fizeram algo que resultou na minha vinda ao mundo e que essas pessoas tinham dinheiro o suficiente para manter a minha existência sem sequer precisar por os olhos em cima de mim. Eu nunca tinha estado numa escola. Livros eu conhecia os da biblioteca abandonada e usava-os sempre como bons assentos quando vinha ensopado da piscina mordicando algum tipo de comida pronta que me garantia um certo excesso de peso. Um dia acordei sentindo uma falta de ar e o coração acelerado, resolvi procurar um médico. Ele perguntou onde estavam os meus pais que não cuidavam da minha alimentação e eu perguntei onde se compravam esses tipos de empregados pra eu poder comprar milhares. Cansado de ver um monte de gente legal pela TV dizendo que "bom mesmo é ficar doidão com um treco que vende lá na esquina" e morrer de inveja da "felicidade" deles, decidi me juntar a eles. Aquelas pessoas não sabiam o que era banho mas tudo bem, eu nunca gostei de tomar banho mesmo, não foi difícil me habituar a eles. Eles roubavam pra conseguir uma coisa que eu tinha aos montes, fácil, fácil. Ganhei um monte de amigos. Antes eu pensava que essas pessoas só existiam em desenho animado. Ali todo mundo era "feliz". Bastava um "teco" e todo mundo parecia ter ganho o mundo. Antes de provar "o bagulho" pela primeira vez eu só não conseguia entender por que algumas pessoas caíam de sono e permaneciam dormindo até que viesse alguém e levasse para algum lugar que eu desconhecia. Como não acontecia com todos, entendi que nem todo mundo sabia ser "feliz" e que eu estava perdendo tempo; eu não ia deixar a oportunidade passar. Do primeiro mané que eu vi passar na minha frente eu arranquei o "fogo" e dei uma tragada. A partir daí eu não lembro mais nada do sonho. Não sei se caí e dormi como aquelas pessoas ou se outra coisa me aconteceu impedindo que eu conhecesse a minha "felicidade". A única coisa que tenho certeza é que não valeu a pena ter sonhado...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Domingos e domingos


Capítulo IV

Dessa vez muitas pessoas se encontravam no local. Era um dia de lazer entre irmãos. Eu me encontrava praticamente infiltrada entre pessoas que eu nunca havia visto antes. No entanto, foi fácil fazer amizade e logo senti novamente o domínio do ambiente necessário à minha soltura. Percebi, com um certo incômodo que me era cabível, que havia interesse entre uma jovem da turma e o meu amado. Agi sem parar pra pensar a fim de uní-los, afinal, era do grado de ambos. Esqueci por alguns instantes que dentro de mim havia um coração que pulsava imensamente apaixonado quando fui relembrada dessa doce condição que me dava o direito de fazer com que tudo desse errado para eles, por ele. O baque foi diretamente proporcional a minha força de vontade. Senti-me como ave que dispondo de asas para voar, inventava qualquer razão para justificar o desprezo a dádiva de poder alçar vôo. Nada me deteve. Naquele momento não havia coração. Desconversei dizendo que não existia "a gente" quando ele me perguntou como ficaríamos. No fim do dia, confesso, fiquei aliviada ao saber que nada entre eles havia acontecido. Obra do destino?...

Descansei meu corpo sobre a cama colocando, agora, o coração pra funcionar avaliando se o que a tarde eu tinha feito foi algo digno do mais puro e verdadeiro amor liberto de individualismo ou se naquele momento eu considerei descartada a hipótese de reciprocidade de sentimento da parte dele quando o mesmo insinuou que pudesse existir...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Domingos e domingos

Capítulo III

Agoniante! Eu precisava te ver e esse sentimento já estava me consumindo sem dó nem piedade. Nunca entendi essa necessidade quase vital de você, sufocante. O telefone vibra talvez pra me tirar do transe... uma mensagem... aflição! Você foi visto pela cidade! Oh! Tão perto mas ao mesmo tempo tão longe de mim, impossível, eu diria, ver-te aquela noite. Engoli a seco uma revolta que pouco a pouco foi se transformando em conformação. Não havia nada a fazer a não ser ver as horas passarem fadigadas como se durante o dia inteiro tivessem corrido. Sentei-me à calçada de minha casa a relembrar todas as vezes que, juntos, vímos essas mesmas horas passarem. Muito tempo permaneci ainda ali sozinha tentando entender o que me prendia aquele lugar onde jamais havia ficado sem companhia, principalmente àquela hora fria - eu nem gostava. Tanta coisa passou pela minha cabeça; tudo, menos que você fosse aparecer ali como se tivesse adivinhado que eu estava a sua espera. E estava? De repente olhei fixamente para um lugar mais a frente... duas pessoas descem de uma moto. Será você? Não. Não tinha sentido você aparecer justamente na "minha rua", àquela hora e ainda coincidir com o único dia em que eu me encontrava ali. Mas será você? Eu não consigo exergar direito, a iluminação pública é falha. Ah! Devo estar delirando, não há como ser você. Mas vem alguém nessa direção. Devo entrar? E se for um bêbado? Bem, meu pai está logo ali na sala, qualquer coisa eu o chamo. Vou virar a vista para o outro lado até que passe por mim... Está se aproximando cada vez mais, meu coração temeroso dispara incontrolável, respiração quase ofegante; o que está acontecendo comigo? ...
- Orgulhosa, vira o rosto quando me vê?!?
- É você? Desculpa! Eu não tinha certeza, não dava pra ver...
...

Ali, poucos minutos passaram a valer por uma eternidade. Alguma explicação para o que aconteceu? Há quem acredite no acaso, outros no destino. Independente da opinião de cada um, é certo que alguma força superior agiu a favor desse encontro. Quem sabe fosse mesmo impossível deixar de atender a um pedido comum a dois corações e se fizesse necessário intervir no livre arbítrio... em nome do amor! ...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Os dias

Então me diz: por que estou aqui todos os dias? Não há o que fazer quando encontro a sua ausência, mesmo assim necessito vir. Sinto-me perto demais e quando estou contigo já não sou eu somente - sou plural. Procuro-te em cada vão momento como poeira que se esvaira invisível mas que não pode passar despercebida; preciso te inalar. Em todas as manhãs desperta-me sereno, acaricia-me a face como quem desfruta do toque da mais pura seda, sustenta meu corpo e conduz-me à rotina que me espera - abandona-me. Logo mais a tarde, busco a ti novamente na cor inebriante que o clima frio e o sol melancólico provoca no horizonte pardo do meu jardim. Em vão... Eu não te tenho aqui comigo... Inconformada pois, eis que embriago-me de sonhos mal-dormidos e mal-sonhados até que anoiteça e a minha esperança se renove - é hora de te ver. O encontro se dá quase sempre, e quando há, a poesia entoa firme o limiar de um pequeno instante infinitamente finito, profundamente intenso. Sendo assim, o dia termina bem. Mas nem todo dia a poesia é válida, e há ainda os dias em que me faz sentir sua falta. Nesses dias, sou simplesmente a onomatopeia contínua do relógio triste que conta o tempo por obrigação...