sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Choveu hoje


Vejo a terra subir ao céu e, em instantes, água se vê caindo de lá – temporal. Já não sei se o barulho que ouço é das gotas de chuva que tocam o chão ou se é o coro dos corações nordestinos que pulsam em disparate de emoção. Anuncia-se o inverno! No rosto do meu pai eu vejo desaparecer as marcas impregnadas do sofrimento, presenciado por ele, da sua pequena criação de gado que a duras custas mantinha-se existente. Todo o verde pobre, ainda verde, fica mais verde, um verde alegre, um verde sorridente. O ar fica mais leve, adocicado e inspirá-lo é um prazer similar ao de uma criança degustando algodão doce. Como tudo aqui se morre em sobrevida e renasce em esperança, nesses tempos faça sol ou faça chuva a Deus agradecemos a dádiva da sua lembrança! Eita chuvinha boa...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A despedida


Ela cruzava o portão da universidade acompanhada por duas amigas quando o avistou de olhos fitados nela logo mais à frente. Pediu que suas fiéis a esperassem ali e não fizessem nenhuma gracinha até que ela voltasse. Dirigiu-se até ele mantendo durante todo o percurso seus olhos nos olhos dele. Estava cega para todos a sua volta, ele também. Enquanto ela ía ao seu encontro ele permanecia imóvel e mudo, parecia hipnotizado. Quando já bem próxima a ele, ele desescorou-se do carro e a tomou em seus braços como se tudo já tivesse sido ensaiado antes, como se aquele encontro tivesse sido predestinado a acontecer. Beijaram-se sem pressa por um longo tempo, depois sem palavra alguma desprenderam-se. Ela lhe deu as costas, ele entrou no carro e acompanhou-a com os olhos até o momento que chegara aonde estavam suas amigas. Ele se foi e ela retomou seu rumo. Foi breve esclarecendo que não tinham voltado e pediu para não tocarem mais no assunto. Eles nunca mais se viram nem se falaram. Extingüiram assim a possibilidade de reatarem e aquela havia sido a consolidação do “não tem mais volta”.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Não acontece mais


Mal conseguiu pegar no sono aquela noite pois uma certa agonia juntamente a fungados causados pela alergia a perturbava. Mas não era só isso. Quando o sono parecia estabelecido, o celular em baixo de seu travesseiro toca.


[1:43h da madrugada.]
- Oi...
- Oi... Tava dormindo?
- ...
- Estou com saudade.
- ...
- Olha, eu sei que a gente não deu certo, mas eu te amo...
- ...
- Te amo, te amo, te amo, te amo, te amo...
- ... (Apenas um suspiro.)
- Está ouvindo?
- Aham.
- Você já me esqueceu?
- (Silêncio breve.) Não. (Outro suspiro e um fungado.) Por que você não está dormindo?
- Você quer dormir?
- ...

A ligação cai (ou não). Ela de agoniada passou para indignada. Por que ele havia ligado? O que queria? De certo queria ouvir que ela também ainda o amava, mas já não era hora de falar sobre isso. Dias haviam se passado e ela já estava se acostumando a não falar mais de seu amor.


[1:51h da madrugada.]
- Oi...
- Amor...?!?
- Oi.

A ligação cai outra vez. Quanto mais o tempo passava mais aumentava a sua indignação. Por que ele insistia? E por que a ligação caía? Alguns minutos mais se passaram e ela enfim conseguiu pegar no sono novamente.


[2:15h da madrugada.]
- ...
- Oi.
- Oi.
- Tá com sono?
- (Suspiro.)

Outra vez a ligação é encerrada. “Não vou mais antender”, decidiu ela. Colocou o celular no modo silencioso e sem vibrar. Nada mais perturbaria seu sono, a não ser a sua própria ansiedade. Vez por outra tirava o celular debaixo do travesseiro para ver se havia alguma chamada não atendida. Repetiu o gesto algumas vezes até ser vencida pelo cansaço.
...
Ela pulou da cama quando viu a claridade em seu quarto anunciando que o sol já havia acordado há algum tempo. Olhou o celular sem saber ao certo se o que pretendia de imediato era ver as horas ou se ele havia chamado alguma vez depois que voltara a dormir. Sentiu uma certa decepção misturada com alívio. O objeto indicava 9:10h da manhã. Sem pensar em mais nada deu início a sua rotina somente um pouco atrasada...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Lapso

Senti saudade de caminhar na praia e além do contato dos pés descalços com a areia fria e relaxante, o contato com teu corpo quente e protetor. Senti saudade também de olhar em seus olhos e eles me confirmarem tudo o que dizia quando era difícil de acreditar. Qual o problema de correr sobre pedras pontiagudas se lá no fim se encontrava você pronto para aliviar qualquer dor? Seria capaz de disputar uma corrida com o vento mais forte que pudesse soprar só pra provar pra ele e pra quem duvidasse que de encontro aos seus braços eu iria com a velocidade da luz, pois sabia bem com qual velocidade seria capaz de recuperar meu fôlego. [Assim como sabia com qual velocidade era capaz de me roubá-lo.] Quando senti tudo isso, olhei-me no espelho e acreditei nos meus próprios olhos. Eles estavam chorando. Disseram-me que não era saudade o que eu estava sentindo. Aquelas lágrimas caindo eram o orgulho emergindo de ter feito, com você, uma história tão prazerosa de se lembrar.

Obs.: Não acredite em outros olhos – principalmente os apertadinhos. Por trás daquelas pálpebras caídas existem muito mais verdades que não somos capazes de enxergar...

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A carta


Acordara naquele dia atrasadíssimo para o trabalho porque na noite anterior entornou todas lamentando o caos em que sua vida há pouco havia se transformado, e como se não bastasse, desde que pôs os pés no chão sentiu uma desconfortável e estranha dor no peito esquerdo. Tomou logo um gole d'água e aprontou-se o mais rápido possível. Quando abriu a porta de casa, já de saída, deparou-se com uma correspondência diferente, sem remetente.

Como vai você? Eu venho dizer-te dos meus dias sem ti. Exatamente hoje faz um mês que não estamos mais juntos. A primeira noite foi impiedosamente fria e sufocante. Eu pude ver na parede desse meu novo quarto, na escuridão, todas as cenas em que acreditei fluir amor entre nós. Eu assisti um filme lindo, mas com final trágico. Chorei horrores até sentir os sintomas de um princípio de desidratação. Prometi a você que iria lutar pela vida mesmo que já não houvesse motivo para isso, portanto, suprimi o desânimo e passei a matar um leão por dia. Não esqueci o que me fez nos últimos dias em que mantínhamos ainda um relacionamento, mas superei esses fatos porque vi em seus olhos vestígios de arrependimento. Não aprendi a viver sem você, logo garanti um jeito de manter a minha existência pra honrar a minha promessa. Ao menos eu não te devo nada.
Como tem passado? Eu, todos os dias, caminho ao seu encontro tratando de não expor a minha presença muda aos seus olhos convencidos. Conheço-te muito bem a ponto de saber que não terias a coragem de vir me procurar, mas ousarias, se me encontrasse ao acaso, prometer por em prática nossos velhos planos e nunca mais dar motivo para que eu sofra. Conheço-me muito bem a ponto de não garantir pulso firme diante de ti. Sou fraca, e mesmo assim uso a razão. Contudo, tenho medo...
Que os seus dias tenham sido melhores que os meus. Que fique ao menos em sua memória que pra mim cada momento de felicidade foi extremo, mesmo que isso na época não tenha tido importância pra você. Que seja então, de um mês atrás em diante, verdadeiramente feliz.
Com amor,
Amor.
P.S.: Eu te amo, mas não te quero mais!
Ali mesmo, chocado, caiu num choro profundo e amargo. Morria naquele instante a esperança de poder reparar seus erros mas também nascera a certeza de que a amava - tarde demais. Ninguém mais que ele sabia o quão sinceras aquelas palavras haviam sido...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Amanhã é outro dia


Eu te falei: “vai amanhecer!”
Você me esqueceu uma noite e a lua caiu.
Eu fiz de tudo pra segurar o sol.
Você, enquanto isso, foi brincar com outras estrelas.
Eu pus a mão no fogo por você...
Você queimou a minha confiança!
Eu ainda chorei porque não veio me ver.
Você voltou e falou-me do seu amor.
Eu sofri calada mas desisti de nós.
Você revoltou-se e julgou-me insensata.
Eu tive que mudar.
Você jurou que ainda me veria pedindo pra voltar.
Eu mudei a rotina e aprendi a sobreviver sem você.
Você se desesperou e todo dia procura me ver.
Eu o trato com frieza como se não o conhecesse.
Você retribui o tratamento.
Eu agora leio o seu pensamento. [Volta!]
Você sabe a música que eu gosto. [Penso em ti]
Acorda! Já amanheceu.
E hoje você vaga procurando vaga numa vaga...

Selando

Caros leitores assíduos deste blog, sei que tenho por obrigação indicar os merecedores dos mesmos selos que me foram agraciados mas é que sou bastante novata nesse meio e conheço poucos blogs. Garanto-lhes que todas as minhas PREFERÊNCIAS se fazem honradas de tê-los, no entanto, a maioria já os tem. Aos que ainda não possuem algum deles, sintam-se no direito e merecidos de os pôr em seus blogs como reconhecimento. Desculpa a forma indireta de os presentear muito embora seja de coração. Parabéns a todos!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Quimera


Pela janela eu via lá fora tudo meio distorcido, a chuva vinha de encontro a vidraça. Ao longe, as copas das árvores de um verde esperançoso enchia meus olhos de uma vontade inexplicável de manter-me ali estagnada. Os cavalos corriam incansáveis contra o vento extravasando em suor toda a adrenalina que comandava aquele ritmo frenético. Pareciam bem felizes, portanto, e posso afirmar que me ocorreu uma espécie de inveja deles. Corriam na chuva como se dançassem livremente um som que só eles pudessem ouvir denotando uma liberdade incondicional. E eu trancada ali dentro... Era cedo, mesmo assim a lareira já se encontrava ardendo em chamas, esquentando o ambiente mas nem ao menos amornava meu coração. De súbito, meio inconsciente, investi numa caminhava acelerada e quando passei pela porta da frente lancei-me numa carreira desenfreada até cansar as pernas e cair no meio de uma clareira cercada por diferentes flores de um colorido exuberante jamais vista ou ao menos comentada. Foi então que dei por mim, perguntando-me como havia parado ali e o que pretendia fazer naquele lugar. Fechei os olhos e pude sentir o gosto do ar que se fazia presente naquele meio e senti um perfume masculino intenso, perturbador. Mas de onde vinha? Eu parecia estar sozinha. O aroma das flores era outro. Ofegante ainda, deitei sobre a grama encharcada pela chuva, e as gotas que me atingiam fortemente nem me incomodavam. Senti que algo ou alguém se aproximava e o perfume que eu já estava sentindo foi se intensificando denunciando que estava cada vez mais perto. Incrivelmente eu não conseguia abrir os olhos, nem gritar, nem levantar, nem me mexer. Não tive reação e até que o beijo me desencantasse permaneci extremamente inerte. O beijo... Foi ele quem me reativou os sentidos, porém só quando chegou ao final foi que recuperei a visão. Tinha a minha frente um homem de olhar doce, meigo e sedutor. Agora uma garoa interpunha-se entre nós como fina cortina. Tomou-me em seus braços e pôs-me sobre um cavalo que eu até então não tinha notado presente ali. Subiu logo em seguida em permanente silêncio e seguiu o nosso destino. Eu não sabia para onde iria mas tinha a certeza que aquele comprometimento signicafaria a minha liberdade...

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Nunca mais vou ser

Quando a razão vem me fazer crer que é assim que devo agir
Vem você com esse seu sorriso bobo, sensibiliza a muralha e a faz ruir.
Agarro-me a detalhes que justificarão minha decisão
Mas é difícil quando chegas perto, calado e discreto e me joga no chão.
Diz que sou sua de corpo, alma e mente,
Diz tudo na minha frente, desdenhando do meu amor,
Joga-se por cima de mim, cala minha boca e dali a pouco me enche de novo de dor...
Isso é amor?
E quando de pé tento seguir em frente e abandonar o termo “a gente”
Dualiza meu eu, convence-me da união, jura amor eterno e me tem outra vez na mão.
Está em mim... Vou fugir de mim e me libertar de você...
Vou acordar amanhã em você, ir de encontro a você e me prender em mim...
Eu nunca mais você... Sozinha!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Carnaval

Carnaval... Todos em todos os lugares se divertiam em bandos sem nem pensar em como estariam aquelas pessoas solitárias...

Ela estava desconsolada em seu apartamento "curtindo" a solidão e colecionando suspiros em sua cama vazia. Esbofeteava os travesseiros e resmungava tristemente o seu lamento:

-Ele nunca me amou mesmo. Hoje deve fazer pouco caso da minha existência e principalmente do meu amor. E eu aqui...

A campainha soa daquela maneira inconfundível, denunciando seu operador. Num salto inexplicado, ela agora se encontrava de pé se recompondo e tratando de por em seu rosto um semblante indiferente. E foi assim que abriu a porta e se deparou com aquela presença agradabilíssima aos olhos mas muito mais ao coração. O perfume de sempre, envolvente, enfestou o ambiente e reverteu sua vontade de manter-se fria. Diante dela, ele tinha uma mão em cada lado do portal e olhar fixo em sua boca, cantando insinuantemente o trecho de uma música do Engenheiros do Hawaii:


Teus lábios são labirintos

Que atraem os meus instintos mais sacanas...



Nesse momento, num rápido impulso agarrou-a pela cintura com o braço direito, bateu a porta com a mão esquerda e logo em seguida levou-a a cabeça dela contornando os movimentos ritmados daquele beijo interminável. Sem abrir os olhos, ambos tombaram nos móveis que se encontravam no meio do caminho que dava acesso ao quarto onde ali tantas vezes ele a fez mulher, somente prolongando as pré-liminares e aumentando o desejo de se jogarem na cama e por fim se esfaltarem num êxtase fora do comum...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Convite eloquente


Relembrei com certa nostalgia aquele lugarejo onde ali adentrar em suas manhãs aromatizadas equipara-se com a sensação de estar seguindo rumo ao paraíso. Uma fragrância verde... O sol frio acaricia a pele e envolve a alma com afeto maternal. Logo se vê muita gente de pé ainda que bem cedo. Ali se acorda com as galinhas. Muita gente a visitar, rapidamente as horas se passam e em instantes pode se deparar com a plenitude do pôr-do-sol. Um espetáulo imperdível! Rara harmonia de cores e formas, aromas e sons. Despede-se daquele lugar saboreando um delicioso cheirinho de café, já degustado, juntamente ao cheiro quente do fogo ardente proveniente de fogão à lenha. De longe ainda se vê acenos agradecidos e mais uma vez convidativos de uma gente tão querida quanto merecida de atenção. Povo sincero e humilde cujo interesse está unicamente em demonstrar o quanto a sua presença lhe é agradável. Recompensador porém, um carinho que hoje dista de mim quilômetros e quilômetros de terra e céu diferenciadamente cinzentos. Já parte em meu peito um coração cheio de saudade e vontade de matar essa saudade relembrando tudo novamente...