domingo, 17 de fevereiro de 2008

A carta


Acordara naquele dia atrasadíssimo para o trabalho porque na noite anterior entornou todas lamentando o caos em que sua vida há pouco havia se transformado, e como se não bastasse, desde que pôs os pés no chão sentiu uma desconfortável e estranha dor no peito esquerdo. Tomou logo um gole d'água e aprontou-se o mais rápido possível. Quando abriu a porta de casa, já de saída, deparou-se com uma correspondência diferente, sem remetente.

Como vai você? Eu venho dizer-te dos meus dias sem ti. Exatamente hoje faz um mês que não estamos mais juntos. A primeira noite foi impiedosamente fria e sufocante. Eu pude ver na parede desse meu novo quarto, na escuridão, todas as cenas em que acreditei fluir amor entre nós. Eu assisti um filme lindo, mas com final trágico. Chorei horrores até sentir os sintomas de um princípio de desidratação. Prometi a você que iria lutar pela vida mesmo que já não houvesse motivo para isso, portanto, suprimi o desânimo e passei a matar um leão por dia. Não esqueci o que me fez nos últimos dias em que mantínhamos ainda um relacionamento, mas superei esses fatos porque vi em seus olhos vestígios de arrependimento. Não aprendi a viver sem você, logo garanti um jeito de manter a minha existência pra honrar a minha promessa. Ao menos eu não te devo nada.
Como tem passado? Eu, todos os dias, caminho ao seu encontro tratando de não expor a minha presença muda aos seus olhos convencidos. Conheço-te muito bem a ponto de saber que não terias a coragem de vir me procurar, mas ousarias, se me encontrasse ao acaso, prometer por em prática nossos velhos planos e nunca mais dar motivo para que eu sofra. Conheço-me muito bem a ponto de não garantir pulso firme diante de ti. Sou fraca, e mesmo assim uso a razão. Contudo, tenho medo...
Que os seus dias tenham sido melhores que os meus. Que fique ao menos em sua memória que pra mim cada momento de felicidade foi extremo, mesmo que isso na época não tenha tido importância pra você. Que seja então, de um mês atrás em diante, verdadeiramente feliz.
Com amor,
Amor.
P.S.: Eu te amo, mas não te quero mais!
Ali mesmo, chocado, caiu num choro profundo e amargo. Morria naquele instante a esperança de poder reparar seus erros mas também nascera a certeza de que a amava - tarde demais. Ninguém mais que ele sabia o quão sinceras aquelas palavras haviam sido...

3 comentários:

Pushoverboy disse...

Sempre ouço dizer que só valorizamos quando perdemos e creio que se não for regra é bastante comum. Por isso procuro fazer um jogo comigo mesmo... e se fulano deixasse a faculdade? e se eu perdesse meus pais e ficasse só? e se eu parasse de gastar dinheiro com bagana?? ... e ao faze-lo tento imaginar como eu seria, o que sentiria; tento imaginar com muita concentração e vez ou outra me surpreendo ao perceber o quanto preciso de certa pessoa ou o quanto seria melhor parar com certos hábitos... vivo em constante mudança, tentado valorizar o que possuo e impedir que os perca.

aaa nas minhas humildes experiências, as primeiras vezes são inesquecíveis, mas as segundas e terceiras são inegavelmente melhores!!

Bjos moça

Filipe Garcia disse...

Oi moça dos versos bonitos. Quem nunca viveu um amor desencantado? Muito bela a sua forma de expressar sentimentos (de forma sincera, crua, fiel).

Estou te linkando pra ler-te mais vezes.

Beijo. Foi um prazer lê-la.

Anônimo disse...

Acho que o ditado mais certo que existe é "a gente só dá valor à agua quando a fonte seca".
Eu já passei por isso, sei o quanto dói...