sábado, 11 de julho de 2009

Os olhos não mentem

Aqueles olhares que já haviam se cruzado algumas vezes na cidade agora se cruzaram num lugar mais propício a se conhecerem. Ela sentada em sua poltrona observando a entrada dos passageiros no ônibus e ele esperando sua vez, na fila, para entrar. A procura de seu lugar, Eduardo direcionou sem querer seu olhar ao olhar de Luciana. Coincidentemente viajariam lado a lado. Essa descoberta foi aceita com prazer. Por educação e pela sabedoria que o passar dos anos o havia proporcionado, Eduardo cumprimentou sua ninfa esperando uma resposta convidativa para continuar a conversa, obtendo-a. Luciana parecia entregar todas as suas expectativas através daqueles risos sem motivos, enquanto Eduardo teimava em seu íntimo com a idéia de que a moça estaria apenas sendo educada. O fato é que a viagem de 8h noite adentro nunca parecera ter durado tão pouco. Ambos seguiam para o interior, mas a princípio não viajariam para o mesmo município. Ao saber que o objetivo da viagem de Eduardo seria apenas descansar sozinho num lugar desconhecido, Luciana não hesitou em convidá-lo para seguir com ela ao interior onde moravam uns parentes com quem ela passaria aquela temporada. Eduardo custou a crer no convite. Como alguém convida um recém conhecido pra passar férias na casa de parentes? Mesmo sem acreditar na ousadia, ele aceitou quase como por impulso. Temeu, antes disso, que Luciana mudasse de idéia perante a reação que ele teve em lhe fazer justamente essa pergunta. Luciana manteve o riso frouxo e dizendo que conhecia os olhos dele, completou perguntando por que alguém aceitaria um convite de uma recém conhecida pra passar férias na casa de parentes. Eduardo entrou no clima e respondeu que descobrira que os dois gostavam de correr riscos, mas que estava disposto a ver no que toda aquela loucura iria resultar. Luciana o apresentou para a família como sendo seu namorado de longa data e pediu que reservassem apenas um quarto para os dois, para espanto ainda maior de Eduardo. Era incrível a capacidade dela em surpreendê-lo, o que o deixava ainda mais fascinado. Dividiam a mesma cama e nos primeiros dias se respeitavam como irmãos. Não se tocavam com intimidade. Passavam os dias caminhando pela cidade, descobrindo as belezas que o lugar podia proporcionar a vista e fazendo fotos. As noites passavam em claro, fazendo sempre a mesma coisa: conversando. Num fim de tarde quente, tomando sorvete, sentados no banco de uma praça, brincavam como crianças, um lambuzando o rosto do outro. Luciana parou fitando o rosto de Eduardo com paixão. Eduardo encantado e tomado pela magia do momento, também parou contemplando o semblante de Luciana por alguns instantes. Não se sabe se a magia durou segundos ou minutos, mas virou sonho real a partir do momento em que ele se aproximou de Luciana e falou docemente em seu ouvido que iria provar de seu sabor, deslizando seus lábios pela face lambuzada de sorvete. Nunca uma brincadeira de criança havia sido tão prazerosa e chave de acesso aos domínios da felicidade...

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